Como Nossas Emoções Influenciam Nossas Decisões Financeiras
- Marcelo Vicentini Coelho
- 11 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de mar.
Conteúdo
Introdução
Imagine a seguinte situação: você recebe uma notificação sobre uma promoção relâmpago de um produto que há tempos deseja comprar. Sem pensar muito, realiza a compra, apenas para descobrir depois que nem precisava tanto daquele item, ou pior, que o mesmo produto estava mais barato em outra loja.
Por que tomamos decisões financeiras aparentemente irracionais, mesmo quando nos consideramos pessoas conscientes? A resposta está nas finanças comportamentais, um campo fascinante que revolucionou nossa compreensão sobre como lidamos com dinheiro.

O que são finanças comportamentais?
As finanças comportamentais representam uma revolução no pensamento econômico tradicional. Enquanto as teorias econômicas clássicas presumiam que éramos seres perfeitamente racionais (o chamado "homo economicus"), sempre tomando as melhores decisões possíveis com as informações disponíveis, as finanças comportamentais reconhecem nossa humanidade, com todas suas complexidades emocionais e psicológicas.
Este campo de estudo, desenvolvido principalmente pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky, demonstra que nossas decisões financeiras são fortemente influenciadas por emoções, preconceitos cognitivos e atalhos mentais que desenvolvemos ao longo da evolução.
Os principais vieses que governam nossas decisões financeiras
1. Aversão à perda
Nossa tendência a sentir a dor da perda com muito mais intensidade do que o prazer do ganho. Estudos mostram que a intensidade emocional de perder R$100 é aproximadamente duas vezes maior que a alegria de ganhar o mesmo valor.
Quando mantemos ações que desvalorizaram esperando "recuperar o prejuízo", quando evitamos vender um imóvel por um valor menor do que pagamos mesmo quando precisamos do dinheiro ou então, quando continuamos em um emprego insatisfatório por medo de perder benefícios já conquistados, em todas essas situações vemos a forma como a aversão à perda se manifesta.
Para superar, estabeleça critérios objetivos para suas decisões de investimento antes de realizá-las, defina pontos de saída para investimentos antes de entrar neles e avalie cada decisão financeira como se estivesse começando do zero hoje.
2. Excesso de confiança
Temos a tendência a superestimar nossas habilidades, conhecimentos e capacidade de prever eventos futuros. Isso é um caso clássico de excesso de confiança.
Quando acreditamos que podemos "vencer o mercado" escolhendo ações individualmente, quando fazemos previsões muito otimistas sobre nossa capacidade de poupar ou então, quando subestimamos riscos em investimentos aparentemente seguros, em todos esses exemplos vemos como o excesso de confiança se manifesta.
Ao manter um diário detalhado de investimentos e suas justificativas, comparar regularmente suas previsões com os resultados reais e buscar ativamente opiniões contrárias às suas, tais ações podem fazer com que você supere o problema.
3. Viés do presente
Nossa preferência natural por recompensas imediatas em detrimento de benefícios futuros maiores, confirma o viés do presente.
Quando postergamos o início de uma reserva de emergência, quando preferimos comprar algo hoje a investir para o futuro ou então, quando deixamos de contribuir para a previdência privada por priorizar gastos imediatos, em todas essas situações vemos o viés do presente se manifestar.
Para superar tais situações, automatize suas economias e investimentos, visualize seu "eu do futuro" como uma pessoa real que depende de suas decisões hoje e use a técnica de "pagar-se primeiro", separando o dinheiro para investimentos assim que recebe.
4. Viés de confirmação
A tendência em buscar e valorizar informações que confirmam nossas crenças preexistentes, ignorando evidências contrárias, esclarece o viés de confirmação.
Ele se manifesta, por exemplo, quando só lemos análises que confirmam nossa visão sobre um investimento, quando ignoramos sinais de alerta sobre gastos excessivos ou então, quando seguimos apenas especialistas que compartilham nossa visão de mercado.
Para superar esse viés, busque ativamente pontos de vista diferentes, participe de grupos de discussão com pessoas que pensam diferente de você e questione regularmente suas próprias premissas financeiras.
Como isso afeta o nosso dia a dia?
Nas decisões de consumo
O marketing explora nossos vieses comportamentais com técnicas como ancoragem de preços
Promoções com tempo limitado ativam nosso medo de perder oportunidades
O ambiente digital facilita compras por impulso ao reduzir o "atrito" da transação
Nos investimentos
Tendemos a seguir comportamentos de manada, comprando na euforia e vendendo no pânico
O excesso de informação nos leva a decisões precipitadas ou à paralisia
Desenvolvemos apego emocional a determinados investimentos, dificultando decisões objetivas
Estratégias práticas para decisões financeiras mais inteligentes
Crie sistemas de proteção
Estabeleça regras claras e por escrito para suas decisões financeiras
Use ferramentas automáticas para investimentos regulares
Defina limites claros para gastos em diferentes categorias
Pratique o autoconhecimento financeiro
Mantenha um diário de decisões financeiras e suas motivações
Identifique seus gatilhos emocionais para gastos impulsivos
Revise regularmente suas decisões passadas para aprender com elas
Desenvolva uma mentalidade de longo prazo
Crie metas financeiras claras e mensuráveis
Visualize regularmente seus objetivos futuros
Celebre pequenas vitórias no caminho para suas metas maiores
Conclusão
As finanças comportamentais nos ensinam que ser "irracional" é parte da natureza humana. Em vez de lutar contra essa realidade, podemos usar esse conhecimento para criar estratégias que nos protejam de nossas próprias tendências prejudiciais.
O segredo não está em tentar eliminar completamente as emoções de nossas decisões financeiras – isso seria impossível e até contraproducente. O objetivo é desenvolver uma relação mais consciente com nosso dinheiro, reconhecendo nossos vieses e criando sistemas que nos ajudem a tomar decisões mais alinhadas com nossos objetivos de longo prazo.
Vale lembrar que, cada pessoa tem sua própria relação com o dinheiro, moldada por experiências, crenças e circunstâncias únicas. Use o conhecimento das finanças comportamentais como uma ferramenta de autoconhecimento e desenvolvimento, construindo aos poucos uma relação mais saudável e consciente com suas finanças.
Um grande abraço e até a próxima postagem!
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